quarta-feira, 21 de maio de 2014

Conexões IV

Fui assistir ao filme “Noé”, na verdade apenas uma fábula contada em cima de umas poucas páginas do Livro do Gênesis, que faz parte do Pentateuco os cinco primeiros livros da Bíblia. Bom, legal mesmo é ver o ator Russel Crowe interpretar um cara que tinha mais de quinhentos anos quando do dilúvio. Mas o australiano Crowe também já interpretou (brilhantemente) o matemático americano John Forbes Nash, no filme “Uma mente brilhante” onde conta sua luta contra a esquizofrenia ao mesmo tempo em que desenvolvia  uma das mais importantes teorias matemáticas que é a Teoria dos Jogos.

Essa teoria usada para análises econômicas, pois tenta estabelecer relações causais entre as informações disponíveis e/ou inferíveis dos jogadores de um jogo de cartas com as suas decisões, demonstrando que normalmente decide-se muito mais pela inferência do que pela realidade. Foi usada também como uma ferramenta de análise de riscos de guerras durante o período da Guerra Fria.

Este período foi aquele que se seguiu a Segunda Guerra Mundial onde Estados Unidos e a antiga União Soviética ficavam disputando “zonas de influência” como se jogassem uma partida de War. As consequências foram graves e sérias, como as Guerras da Coreia e do Vietnam, as centenas de golpes de estado na África e na América Latina, como o golpe de 1964 aqui e o de 1973 no Chile. Mas queria falar especialmente de um golpe na Colômbia no inicio dos anos 60, também com dedo da CIA para colocar um general no poder e fazer frente a uma possível influência da revolução cubana. Por causa deste golpe um jovem jornalista que tinha conseguido ser correspondente de um jornal colombiano em Paris perdeu o emprego e isso pesou muito para que escolhesse ser escritor. Claro que falo de Gabriel Garcia Marques.

Li “Cem anos de Solidão” diversas vezes, cada leitura em uma fase de minha vida, claro que irei retornar a essa leitura mais uma vez, já catei o livro da estante e a primeira frase: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento...” ainda me impacta. Mas o que interessa é que nos 60 Gabo morava em Nova Iorque, como correspondente da agência cubana Prensa Latina junto às ONU, de onde por suas posições politicas acabou se mudando para a Cidade do México. Uma viagem a sua cidade natal  em uma cena descrita no livro-entrevista “Cheiro de Goiaba” todo o livro “Cem anos de solidão” vem a sua cabeça (não vou contar a cena aqui, vale a pena ler o livro). Volta à cidade do México, consegue um adiantamento com seu editor da Editorial Mercuryo de Buenos Aires, ao qual promete escrever o livro em seis meses e  demora dois anos. Passa o ano de 1966 escrevendo e  reescrevendo o livro que seria lançado em 1967.

Bom, em 1966 lá em Nova Iorque de onde Gabo havia saído, um jovem pugilista negro junto com outro jovem negro é acusado por um triplo assassinato, mesmo com testemunhas que o tiravam totalmente da cena do crime foi preso e  após um julgamento sem provas, manipulado e movido a preconceito racial, Rubin Carter, que se preparava para disputar o cinturão de ouro do boxe em sua categoria de peso médio, foi condenado. Foi inocentado trinta anos depois. Morreu três dias após Garcia Marques e para ele Bob Dylan compôs “Hurricane”, que era seu apelido. Essa canção está no fantástico álbum “Desire” e Dylan conta toda a história, ouça em :
http://www.dailymotion.com/video/xr3q27_bob-dylan-hurricane_music. Depois foi feito um filme com o mesmo nome da música ( Com Denzel Washington, vale a pena assistir).

Bom, mas porque um jovem judeu chamado Robert Zimmerman resolveu se chamar Bob Dylan? A razão é que ele queria ser poeta e escolheu o inglês Dylan Thomas como referência e adotou seu nome. Dylan Thomas era um poeta romântico, lírico e Bob Zimmerman se tornou um poeta-cronista. Suas canções viraram hinos das lutas pelos direitos civis americanos, como “Blowin’ in the Wind”.

Mas queria falar de uma em especial que é “Knocking  on heaven’s door”, à voz anasalada e pronúncia complicada de Bob Dylan, prefiro a versão  dos Gun’s Roses, confira em  https://www.youtube.com/watch?v=xw6bbTxbTds&list=RDxw6bbTxbTds. Tudo bem que o Axl enfiou um verso estranho no meio da música, meio suicida (parece que ele está falando ao telefone...). Enfim Axl  não se matou...(só engordou...) Mas essa música que fala, aparentemente de um soldado, voltando da guerra e perdido ,me marcou quando assisti a uma reportagem lá nos anos de 1990 sobre a guerra da Bósnia. Essa guerra foi um massacre, um extermínio, com estupros em massa e “limpeza étnica”  muito próxima aos padrões nazistas. Mas reportagem era sobre dois jovens de Sarajevo que eram músicos antes da guerra, eles retornam  a sua cidade, que fora bombardeada  e diante das ruinas do bar onde tocavam, cantam essa música!

Tudo bem, Bono Vox também falou da guerra em Miss Sarajevo, falou mesmo?? Tudo bem que  segundo meu amigo Tarcísio ele faz um rock meio gospélico e sai pelo mundo fazendo boas ações e mostrando sua infindável coleção de óculos maneiros,  mas vale a pena ouvir o “hino” gravado em uma Igreja Evangélica do Harlem em New York, confira em https://www.youtube.com/watch?v=M8Wt3dhF4fU.  Bem, o Bono é irlandês e também, como Bob Dylan,  tocou em assuntos políticos, no rock “Sunday, Bloody Sunday!”  que relata a chacina de 14 manifestantes católicos que protestavam contra a ocupação inglesa da Irlanda do Norte em Derry, 1972. Metade das vítimas era menor de idade e morreram com tiros nas costas. O inglês Paul MacCartney compôs “Give Ireland back to the irish”.( Deixo que você mesmo procure alguma coisa sobre essas músicas...).


Bom... o que rock e política têm a ver com Noé? Nada, o filme é ruim, mas conexões são boas... fala sério!