domingo, 13 de janeiro de 2013

Rock é assunto sério – parte 2

Bom, depois daquela pequena introdução, vamos ao que interessa, os riffs imortais. O uso da guitarra no rock vem daquela máxima de Muddy Waters: “O blues teve um filho, ele se chama rock’nroll” . Já falei de Robert Johnson, bluesman, morto aos 27 anos, depois de beber um Bourbon envenenado (uns dizem que foi um marido enciumado, outros que fora a mulher- também enciumada), seus riffs é que marcaram uma espécie de início do rock, já que diversos roqueiros foram beber nessa fonte, por isso vou comecar pelos Rolling Stones, que trazem a marca do blues em suas músicas.

Satisfaction, gravada em 1965 foi o primeiro sucesso dos Rolling Stones e os marcou como uma espécie de anti-Beatles, o riff inicial é reconhecido em qualquer lugar do mundo. Enquanto os garotos de Liverpool, embora filhos de estivadores do cais, eram certinhos, as Pedra Que Rolam, mesmo sendo de classe média alta e tendo o que de emelhor a educação britânica pudesse dar, eram assim meio badboys, inaugurando a trilogia sexo-drogas-rock’nroll. A música é de Keith Richards, que é uma lenda dentro da lenda, o verdadeiro pai de Jack Sparrow, que trocando o sangue e cheirando as cinzas do pai ainda dedilha seus famosos riffs. Na internet existem diversos vídeos dos Stones , já que cantam seu tédio há quase cinqüenta ano, pois é... Mick Jagger dizia que não queria chegar aos quarenta anos cantando Satisfaction... Os Stones, mesmo cheio de rugas continuam sendo uma máquina do rock, todas as suas apresentações são perfeitas, qualquer busca na internet trará sempre ótimas performances, por isso não indicarei nenhuma em especial.

Jumpin’Jack Flash traz Keith Richards fazendo uma releitura do riff inicial de Satisfaction. Esta música inaugura aquela fase meio diabólica dos Stones, começada no álbum anterior “Their Satanic Majesties”. A influência do animismo dos antigos escravos do delta do Mississipi, o pacto de Johnson na encruzilhada e um sonho de Keith Richards em sua casa de campo no interior da Inglaterra, reforçam a lenda que são estes caras.
O mais antigo show que achei show é esse mostrado no link http://www.youtube.com/watch?v=LJ9D0UHP7x4, onde a formação ainda tem Bill Wyman e Mick Taylor. A música está no álbum Beggar’s Banquet, que marca a retomada do Rythm and Blues que é a marca dos Stones.

Já que falei dos Beatles não dá para falar de riffs sem falar de Something. Com certeza uma das mais apaixonadas canções já gravadas. Vai de Elvis Presley a Frank Sinatra, teve mais de 150 versões e foi um dos maiores sucessos dos Beatles, onde a dupla Lennon e McCartney monopolizava a autoria das músicas. A lenda diz que John e Paul concordarem em colocar a musica apenas para tapar um buraco do álbum Abbey Road. Vale dizer que este álbum foi o último gravado pelos Beatles, já que Let it be foi uma montagem de faixas que já estavam gravadas. De todas as versões a mais notável é uma que não tem a presença de George, falecido em 1999. Está em “Concert for George” de 2002 e tem as presenças de Paul, Ringo e solos fantásticos de Eric Clapton veja em
http://www.youtube.com/watch?v=S7_MsY2IJz4&feature=related
Perfeita!!! Eu acredito que o melhor de George está em While my guitar gently weeps, vale a pena ver a versão que está em http://www.youtube.com/watch?v=T7qpfGVUd8c que está em “Concert for BanglaDesh” de 1971, organizado por George para socorrer aquele país que havia sido devastado por um furacão. Os solos de guitarra são de Eric Clapton, Ringo está na bateria.Rock também é história de amor. Veja só, Eric era o melhor amigo de George e se apaixonou por sua mulher Pattie Boyd, para quem George tinha composto Something . A dor de cotovelo de Eric rendeu a belíssima Layla. George e Pattie se separaram, ela se casou com Eric e depois se separaram também...Sem finais felizes, please, isso aqui é rock!!!

Continuando com os ingleses, não dá para não citar Led Zepellin em dois momentos também. Bom, eu sempre tive para mim que musica Americana boa é , como diz Djavan : música de preto o bom rock é inglês. Vejam Whole lotta Love, rockão pesado, com riffs e batidas contagiantes. Gravada em 1969, é uma espécie de marco do hard rock e do heavy metal. Bom, mas aqui temos um problema, o Balão de Chumbo foi acusado de plagiar uma canção chamada You Need Love, do baixista de blues Willie Dixon. Depois de diversas demandas jurídicas, acabou-se em um acordo onde o nome de Dixon foi incluído como autor. Acho que isso só comprova a raiz R&B do rock. Acho que a melhor versão é essa gravada em um concerto no Madison Square Garden em 1973 e que pode ser visto em http://www.youtube.com/watch?v=PU-PoUwECjI
Mas nem só de heavy rock vivem os riffs, como a gente vê em Something. O Led Zeppelin também fez Stairway to heaven – todo mundo que quer aprender a tocar guitarra quer fazer o riff inicial dessa música. No filme Bruce’s World, traduzido no Brasil para “Quanto mais idiota melhor” , os protagonistas vão a uma loja de instrumentos musicais para comprar uma guitarra Fender Stratocaster e ao experimentá-la com os primeiros acordes de Stairway to heaven o vendedor mostra um cartaz que proibe tocar esta música. Quer fundo musical melhor para ficar down do que essa música?? Trilha sonora obrigatória para funeral de surfista, tem uma letra bem estranha, cujo real significado somente Jimmy Page e Robert Plant podem explicar. Apesar de ser uma música com mais de oito minutos de duração até hoje é uma das mais tocadas nas rádios americanas. Na internet essa música tem dezenas de sites, alguns com mais de 17 milhões de acessos, mas o vídeo que está no link a seguir é o melhor, vejam:
http://www.youtube.com/watch?v=FyabIKB2CWI&feature=related

A bola continua ainda com os ingleses. Apesar de não ser tão conhecida Paranoid do Black Sabbath tem seu lugar garantido em qualquer lista de riffs imortais. Uma espécie de pai do Heavy Metal de poucos acordes, guitarras distorcidas e batidão, eles mesmos não se identificavam assim, preferindo dizer que tocavam blues pesados e distorcidos. A letra de Paranoid é bem blues, diferente do lado meio obscuro e satânico que foram tomando, engrossando uma das lendas do rock que é a de que Ozzy Osbourne comeu um morcego vivo durante uma de suas apresentações. Quando de sua vinda ao Brasil para o Rock in Rio em 1985, surgiram até versões das profecias de Nostradamus dizendo que a vinda de Ozzy era o prenúncio do fim do mundo, tragédias ocorreriam, nada disso aconteceu, nem um morceguinho foi comido vivo para tristeza dos metaleiros que encheram aquela noite. Cuidado ao procurar por Paranoid na internet, você vai acabar achando uma baba de um conjunto paquito-menudo que provavelmente vai fazer muito mal. Achei uma gravação de 1970, não haviam clips e MTV : http://www.youtube.com/watch?v=NZyVZFJGX5g&feature=related
. Tenso!

Como o rock é filho do blues, não dá para deixar de falar de Janis Joplin, morta precocemente de overdose de heroína aos 27 anos, em 1973. Ela não deixou nenhum riff, mas a introdução de Summertime é reconhecida de longe. A música é dos irmãos Ira e George Gershwin que nada têm a ver com rock’roll, é um blues que foi gravado por Miles Davis, Ella Fitzgerald, Charlie Parker, entre outros, a letra é tolinha, e fica bem irônica na voz rebelde de Janis. Essa gravação é da apresentação em Woodstock, onde os solos de guitarra são de Jimmi Hendrix, versão bem melhor que a original, vejam: http://www.youtube.com/watch?v=daG_iY0iKPc&feature=related. O estado de doideira dos dois era tanto que as imagens foram descartadas do filme Woodstock, ficando apenas o registro sonoro, suficiente para imortalizá-los.

Mas, doideira pouca é bobagem, se não for para ser doido o tempo inteiro é melhor nem começar. Kurt Cobain é a prova morta disso tudo, se matou aos 27 anos com um tiro, alguns dizem foi sua mulher Courtney Love que o matou, enfim isso é rock! O Nirvana foi, mesmo sem querer, uma espécie de carro-chefe do rock grunge, filho do punk rock. Este estilo estranho era meio angustiado, marcado por vozes roucas e guitarras distorcidas, com alternância de levadas rápidas e levadas arrastadas, enfim... Vale a pena ouvir o primeiro sucesso da banda, Smells Like Teen Spirit o clip traduz bem o clima da música, embora seja difícil entender a relação entre um mulato, um albino, um mosquito e a libido... vejam : http://www.youtube.com/watch?v=hTWKbfoikeg  Outra música do Nirvana que, por seu riff, merece ser ouvida ou re-ouvida pelo menos umas 50 x 1032 vezes é Come As You Are que também está no álbum Nevermind. O riff nesta música é do baixo. A melhor versão, em minha opinião está no Unplugged MTV, feito pouco antes da morte de Kurt. O ambiente do show já era meio de velório, com flores e velas... http://www.youtube.com/watch?v=gEcm1yIlX8QCaetano Caetano Veloso tem uma versão desta música em seu CD A Foreign Sound, acompanhado por Jacques Morenlembaum que beira a perfeição!! Embora haja alguma resistência vale a pena ver o resultado.Tudo bem... Ele gravou Feelings também neste disco... Fazer o que? Cortar os pulsos por ter ouvido??? http://www.youtube.com/watch?v=Nh6NlUgJoRE&feature=related

E para acabar.Algumas músicas por si, já são lenda, é o caso de Smoke on the water, sem dúvida o mais famoso riff do rock. Os ingleses do Deep Purple foram gravar um disco em Montreaux, Suissa em 1971 e outra lenda do rock, Frank Zappa and The Mothers of Invention estava lá para dar um show no Cassino onde o disco seria gravado. No meio do show um maluco soltou um foguete dentro do teatro que atingiu o teto e o teatro pegou fogo. O Deep Purple foi transferido para outro local onde então gravou seu disco “Machine Head” e ao verem a notícia do incêndio nos jornais onde uma foto mostrava a fumaça se espalhando sobre a água, aproveitaram um riff que já tinham pronto e contaram todo o caso, o resto é história: rock’n roll na veia!!!!! O conjunto acabou ainda na década de 70 e só voltaram em 1984. Os caras estão velhos, mas o lobo perde os pelos, mas não perde as garras, veja o que Steve Morse, que é da ultima formação da banda, faz na guitarra e Ian Gillan nos vocais ainda manda ver: http://www.youtube.com/watch?v=olnGNkgAE6c&feature=related  Compare com a gravação de 1973, onde a guitarra era tocada por Ritchie Blackmore, autor do riff: http://www.youtube.com/watch?v=axOvTex6ET0&feature=related

Bom, chega de falar de rock, na próxima volto à política e ao futebol... Talvez ainda sobre espaço para samba, quem sabe?

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