“A tristeza é senhora
Desde que o samba é
samba, é assim
A lágrima clara
sobre a pele escura
A
noite a chuva que cai lá fora.”
Esses versos de Caetano Veloso, para mim são
umas das mais preciosas versões do que é samba. Outra versão é aquela do
Vinicius de Moraes:
“Pois o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem
sempre a esperança
De um
dia não ser mais triste não...”
A definição do samba vai por aí, pela
tristeza. Lembra aquela clássica definição do Blues : “um homem bom chorando por uma mulher...” Escute “Love in vain” de
Robert Johnson cantada pelos Stones e entenda isso (deixo que você mesmo
procure no Google, este post é sobre samba...)
Então... Não há época melhor para falar
sobre samba do que o Carnaval que aqui no Brasil é marcado pelo samba. Mas como
assim? O samba é tristeza e o carnaval é
tudo, menos triste (pra quem gosta , é claro!). Bom, uma coisa nada tem a ver
com outra. Tem carnaval em Veneza, tem o Mardi Gras em New Orleans, tem na
Alemanha, e lá não tem samba. Aqui é que nós misturamos as coisas. Mas não vou
falar da origem do Carnaval, quero falar de samba.
Claro que sua origem está na África e suas
manifestações estão em todo o Brasil. O batuque dos antigos escravos com
certeza representava uma espécie de ponte com sua origem do outro lado do oceano.
Existem muitas manifestações, mas o que hoje conhecemos como samba é uma musica
urbana, nascida nos morros cariocas com forte influência do samba de roda
baiano (por isso as escolas de samba ainda mantêm suas alas de baianas).
O samba de roda é aquele
samba que pode ser marcado com palmas e se caracterizava por improvisação nas
rodas. Os exemplos mais próximos que conhecemos são aquelas canções das rodas
de capoeira, com palmas, atabaque, ganzá, caxixi e berimbau, ouçam: http://www.youtube.com/watch?v=j2Aqzmk5GGE
A ida do samba de roda para
o Rio de Janeiro acabou permitindo a inserção de novos elementos e
harmonizações. Nasceu ai o samba sincopado , com introdução de instrumentos de
corda e a marcação feita por palmas feita pelo surdo. O “inventor” dessa nova
batida foi um mineiro de Juiz de Fora, Geraldo Pereira, que se mudara para o
Rio de Janeiro nos anos 30 indo morar no morro da Mangueira. Ele fez essa
transição marcando o seu samba com o violão e serviu de matriz para o samba
canção onde foram beber Cartola, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Martinho da
Vila e outros tantos e também a bossa
nova, apesar de estar mais próxima do jazz que do samba. Vejam Roberta Sá
cantando Falsa Baiana de Geraldo
Pereira: http://www.youtube.com/watch?v=V4-jESpQS78
Outra vertente é o chamado samba de raiz ou
partido alto, marcado pelos instrumentos de corda, surdo, pandeiros e em algumas
vezes por palmas. Atualmente Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho, Dudu Nobre e outros
o representam bem deem uma olhada em: http://www.youtube.com/watch?v=dvhPcx8P8a0
Surgiram
muitas outras derivações como o samba de breque, o samba exaltação, o pagode, o
samba-rock, o samba canção e o samba-enredo que, na verdade, é o objeto deste
post desde o início. O samba-enredo é um samba feito para uma escola de samba
desfilar no carnaval. Passou ser empregado obrigatoriamente só no final dos
anos 40, até então eram utilizadas algumas improvisações. Já nos anos 60 o
samba-enredo passou a ser um quesitos para escolha da melhor escola e a partir
dos anos 80 a necessidade de marcar o desempenho do desfile, acabou dando ao
samba-enredo uma cadencia estranha, de marcha batida, cheio de ôôôô, paradinhas
e gritos de guerra. São todos absolutamente iguais. Não conseguimos mais reter
as canções e as letras são cada dia mais doidas, lembrando o grande samba de
Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta: “O
samba do crioulo doido”. Mas neste universo de mesmice, onde não
conseguimos mais distinguir uma escola da outra e um ano do outro, algumas
coisas persistem como o belíssimo Onde o
Brasil aprendeu a liberdade samba ainda sem a marcha batida dos de hoje, da
Vila Isabel de 1972, composto pelo engajado Martinho da Vila: http://www.youtube.com/watch?v=pp7OGx2ktfs
Em 1982 acho que o último samba-enredo ainda
merecedor de ser chamado de samba apareceu na Sapucaí que foi “É hoje” de Didi e Mestrinho, da União da
Ilha do Governador, vejam essa versão do Monobloco, com Pedro Luís e a Parede
– muito bom!! (Procure por ele no Youtube) e Serjão Loroza: http://www.youtube.com/watch?v=JCJ1vAA3MqU
Também em 1982, o Império Serrano contou a
história do próprio samba com “Bumbum paticumbum prugurundum” de Beto sem Braço
e Aluísio Machado, um sambão, mas já anunciava o fim do samba-exaltação e o advento do samba-marcha-cronometrada-batida, mas isso não o desmerece, mas depois dele tudo
ficou muito igual, confiram com Arlindo Cruz: http://www.youtube.com/watch?v=zlOumNddMqc
E olha que nem falei de São Paulo, túmulo do
samba!
Excelente post, Lobo. Vai me ajudar muito nas aulas de música. Grande abraço
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