segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Desde que o samba é samba, é assim...


A tristeza é senhora
Desde que o samba é samba, é assim
A lágrima clara sobre a pele escura
A noite a chuva que cai lá fora.”
Esses versos de Caetano Veloso, para mim são umas das mais preciosas versões do que é samba. Outra versão é aquela do Vinicius de Moraes:
Pois o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre a esperança
De um dia não ser mais triste não...”
A definição do samba vai por aí, pela tristeza. Lembra aquela clássica definição do Blues : “um homem bom chorando por uma mulher...” Escute “Love in vain” de Robert Johnson cantada pelos Stones e entenda isso (deixo que você mesmo procure no Google, este post é sobre samba...)
Então... Não há época melhor para falar sobre samba do que o Carnaval que aqui no Brasil é marcado pelo samba. Mas como assim?  O samba é tristeza e o carnaval é tudo, menos triste (pra quem gosta , é claro!). Bom, uma coisa nada tem a ver com outra. Tem carnaval em Veneza, tem o Mardi Gras em New Orleans, tem na Alemanha, e lá não tem samba. Aqui é que nós misturamos as coisas. Mas não vou falar da origem do Carnaval, quero falar de samba.
Claro que sua origem está na África e suas manifestações estão em todo o Brasil. O batuque dos antigos escravos com certeza representava uma espécie de ponte com sua origem do outro lado do oceano. Existem muitas manifestações, mas o que hoje conhecemos como samba é uma musica urbana, nascida nos morros cariocas com forte influência do samba de roda baiano (por isso as escolas de samba ainda mantêm suas alas de baianas).
O samba de roda é aquele samba que pode ser marcado com palmas e se caracterizava por improvisação nas rodas. Os exemplos mais próximos que conhecemos são aquelas canções das rodas de capoeira, com palmas, atabaque, ganzá, caxixi e berimbau, ouçam: http://www.youtube.com/watch?v=j2Aqzmk5GGE
A ida do samba de roda para o Rio de Janeiro acabou permitindo a inserção de novos elementos e harmonizações. Nasceu ai o samba sincopado , com introdução de instrumentos de corda e a marcação feita por palmas  feita pelo surdo. O “inventor” dessa nova batida foi um mineiro de Juiz de Fora, Geraldo Pereira, que se mudara para o Rio de Janeiro nos anos 30 indo morar no morro da Mangueira. Ele fez essa transição marcando o seu samba com o violão e serviu de matriz para o samba canção onde foram beber Cartola, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Martinho da Vila e outros tantos e também  a bossa nova, apesar de estar mais próxima do jazz que do samba. Vejam Roberta Sá cantando Falsa Baiana de Geraldo Pereira: http://www.youtube.com/watch?v=V4-jESpQS78

Outra vertente é o chamado samba de raiz ou partido alto, marcado pelos instrumentos de corda, surdo, pandeiros e em algumas vezes por palmas. Atualmente Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho, Dudu Nobre e outros o representam bem deem uma olhada em: http://www.youtube.com/watch?v=dvhPcx8P8a0
 Surgiram muitas outras derivações como o samba de breque, o samba exaltação, o pagode, o samba-rock, o samba canção e o samba-enredo que, na verdade, é o objeto deste post desde o início. O samba-enredo é um samba feito para uma escola de samba desfilar no carnaval. Passou ser empregado obrigatoriamente só no final dos anos 40, até então eram utilizadas algumas improvisações. Já nos anos 60 o samba-enredo passou a ser um quesitos para escolha da melhor escola e a partir dos anos 80 a necessidade de marcar o desempenho do desfile, acabou dando ao samba-enredo uma cadencia estranha, de marcha batida, cheio de ôôôô, paradinhas e gritos de guerra. São todos absolutamente iguais. Não conseguimos mais reter as canções e as letras são cada dia mais doidas, lembrando o grande samba de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta: “O samba do crioulo doido”. Mas neste universo de mesmice, onde não conseguimos mais distinguir uma escola da outra e um ano do outro, algumas coisas persistem como o belíssimo Onde o Brasil aprendeu a liberdade samba ainda sem a marcha batida dos de hoje, da Vila Isabel de 1972, composto pelo engajado Martinho da Vila: http://www.youtube.com/watch?v=pp7OGx2ktfs
Em 1982 acho que o último samba-enredo ainda merecedor de ser chamado de samba apareceu na Sapucaí que foi “É hoje” de Didi e Mestrinho, da União da Ilha do Governador, vejam essa versão do Monobloco, com Pedro Luís e a Parede – muito bom!! (Procure por ele no Youtube) e Serjão Loroza: http://www.youtube.com/watch?v=JCJ1vAA3MqU
Também em 1982, o Império Serrano contou a história do próprio samba com “Bumbum paticumbum prugurundum” de Beto sem Braço e Aluísio Machado, um sambão, mas já anunciava o fim do samba-exaltação e o advento do samba-marcha-cronometrada-batida, mas isso não o desmerece, mas depois dele tudo ficou muito igual, confiram com Arlindo Cruz: http://www.youtube.com/watch?v=zlOumNddMqc
E olha que nem falei de São Paulo, túmulo do samba!

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