domingo, 10 de fevereiro de 2013

Falando de poesia


A poesia tem ficado um pouco ausente de nossas vidas. Quando era menino, na escola ler poesia era obrigação, quem não leu “ As pombas” de Raimundo Correia e não ficou embatucado com a “raia sanguínea e fresca a madrugada”? E o Navio Negreiro de Castro Alves? Tinha um colega que conseguia declamar tudo, ainda lembro o final com um dramático “Colombo! Fecha a porta de teus mares”, já dito com a voz embargada.
Essa lembranças me ocorreram em um dia em frente a TV assisti, (naquele breve intervalo  de tempo que minha compulsão de mudar de canal me deixa ver alguma coisa) duas coisas interessantes. Na primeira uma entrevista com Patti Smith, uma poeta do rock que agora lançou sua biografia: Só Garotos, (Companhia das Letras). Ainda não li, mas a entrevista e as resenhas me obrigam a fazê-lo imediatamente. Na segunda, em um dos intervalos da entrevista aparece uma propaganda da Net TV onde um cara toca um violão e canta no estilo Lou Reed.
Bom, Patti Smith é uma espécie de transição do beat para o punk. Levou a poesia para o cenário do rock: “desire is hunger is the fire I breathe. Love is a banquet on wich we feed...”. Tô doido... Estes versos são trecho da letra  da clássica “Because the Night”, composta com  Bruce Springsteen. Existem diversas versões na internet,  mas essa de 1979, ainda com o Patti Smith Group, me pareceu a melhor. Dêem uma olhada: http://www.youtube.com/watch?v=0brHGJ6xqbk&feature=related.
Na entrevista Patti conta sobre a influência que teve dos poetas Allen Gisnberg e Willian Blake. O primeiro era americano, teve participação intensa no cenário dos anos 60 e na formação da cena hippie, foi amigo de Jack Kerouac , devotado seguidor de sexo, drogas e poesia, não necessariamente nesta ordem... O lance com as drogas o fez aproximar-se de Timothy Leary criador do movimento LSD  (League of Spiritual Discovery) que defendia o uso do ácido lisérgico (que acabou tendo como sigla o nome do movimento...) como “ferramenta” de libertação da mente, enfim... doideira pouca é bobagem. Já Willian Blake era inglês e viveu entre os séculos XVIII e XIX. Era poeta e pintor . Suas obras carregadas de sentidos obscuros e místicos inspiraram por muitos anos os esotéricos e eram figurinhas carimbadas na Revista Planeta. Aí temos uma mistura legal que é a cara dos anos 60: liberdade, sexo, drogas (muitas drogas...) poesia, música, esoterismo, misticismo. No livro, o painel deste anos 60/70 são o pano de fundo para a formação de Patti, narrada através de sua história e vida com o fotógrafo Robert Mapplethorpe.
Bom, Patti Smith vive e viveu a maior parte de sua vida em New York, cenário por onde trança e também vive Lou Reed. Ele levou temas mais adultos para o rock dos anos 60 que ainda estava na sua adolescência, também levou mais cultura e uma postura, digamos assim, alternativa. Suas músicas são para ambientes pequenos, com barulho de copos, conversas e muita fumaça de cigarro. Ouça  a barra pesada “Walk on the wild side”, no link: http://www.youtube.com/watch?v=qkwD261MHsc&feature=related., atenção para as “colored girls”…
Não é só New York que une os dois, mas sim uma atitude rock’nroll, visões ácidas e ao mesmo tempo românticas de uma realidade crua. Vejam este trecho do filme “Faraway, so close” de Wim Wenders, onde o anjo Cassiel depois de virar humano em Berlim, vai a um show de Lou Reed, que toca “Why can’t I be good”. Está em : http://www.youtube.com/watch?v=2S3U_lHWR9M. Vale a nota que o filme é de 1993, pós queda do Muro,  tem uma trilha sonora interessante e a bela presença de Natassia Kinski como a “anja” Raphaela. Em 1998 houve uma versão americana deste filme, chamada “City of Angels” que fica muito longe do original, tudo bem  que o filme tem na sua trilha sonora “Uninvited” da Alanis Morissette, com aquele arranjo de orquestra e tudo mais, e o fantástico blues “Red House” de Jimi Hendrix, mas não vale a pena assistir só por isso.
Fico tentando achar a conexão que me fez, vendo Patti Smith, lembrar Raimundo Correia e Castro Alves. Não saberia dizer, o poeta das pombas flertou com o simbolismo, não sei... já o poeta dos escravos era da escola romântica...sei lá... Acho que não ajudou nada, vou mudar de canal!

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